Odemira é territorialmente o mais vasto concelho de Portugal, situado na faixa litoral do distrito de Beja, caracterizando-se pela imensa diversidade paisagística, estendendo-se entre a planície, a serra e o mar. Dos 55 km de costa, 12 são praias, que se sucedem desde o limite do concelho de Sines até à foz do rio Seixe, no Algarve. Toda a zona costeira do concelho está integrada no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

 A sua grande extensão geográfica de 1720,25 km², com 26106 residentes (Censos 2001, INE), distribuídos por 17 freguesias actualmente, cuja variabilidade de distância à sede do concelho vai de 17 a 46 km, conferindo-lhe uma baixa densidade populacional de 14,8 hab/km².

O envelhecimento é bem visível pelo índice de Pearl (0,49), pelo índice de dependência de idosos (44,6%) e pelo índice de envelhecimento (228,4), o mais elevado de todo o litoral alentejano, factores que contribuem para uma elevada taxa de mortalidade padronizada para as doenças cérebro-vasculares e isquémicas do coração, conforme se pode verificar pelos valores apresentados em 2006 no distrito de Beja, em que Odemira apresenta uma alta taxa bruta de mortalidade de 14,35 (Anuário, 2008).

O número de idosos tem aumentado, mesmo quando diminui o nº da população residente, facto que se pode verificar pelos seguintes dados:

               Em 2001 – Total da população residente - 26106

                                   Idade igual/superior a 65 A - 6496

               Em 2008 – Total da população residente - 25365

                                   Idade igual/superior a 65 A – 6890

Paradoxalmente a paisagem e o isolamento atrai população estrangeira a fixar--se no concelho (367 alemães segundo Censos, 2001). Sem conceitos estereotipados e sem etnocentrismos, verificamos tratar-se de uma comunidade com conceitos diferentes de promoção de saúde e prevenção de doença. Se a isto aliarmos o aumento de população imigrante para o sector hortofloricultor, verificamos que este concelho apresenta uma diversidade cultural e étnica que requer da parte dos serviços de saúde um esforço suplementar de forma a personalizar os cuidados ao utente.

 Em contraste, este isolamento tem sido apontado nas últimas décadas como factor de risco acrescido para as elevadas taxas de suicídio e doenças mentais (161 casos segundo Censos 2001).

 A demonstrar esta assimetria geográfica verificamos que a maior fatia de população, 70%, reside na sede do concelho e costa litoral, deixando a serra envelhecida com muitos idosos com mais de 75 anos isolados (segundo Censos de 2001, 24,9% da população tem idade igual ou superior a 65 anos).

 As acessibilidades e a rede de transportes precários, sem transportes públicos alternativos são dos problemas mais flagrantes no ordenamento do território, transversal a todas as problemáticas. Uma das mais afectadas é o desenvolvimento económico, com um mercado de trabalho fortemente sazonal e marcadamente precário. As grandes empresas existentes são filiais de multinacionais agrícolas. O sector terciário é o que emprega maior número de trabalhadores e o desemprego afecta sobretudo as mulheres.

Segundo o diagnóstico social de Odemira, a desestruturação familiar é uma situação recorrente e deve-se sobretudo às insuficientes competências sociais e parentais, mas também ao desemprego e alcoolismo. A dispersão geográfica e os acessos difíceis tornam complicado o acompanhamento destas famílias não existindo no local capacidade de resposta institucional para crianças e jovens em risco. A violência doméstica acontece frequentemente, estando intimamente relacionada com problemas de alcoolismo por parte dos agressores.

O documento também alerta para o excesso de consumo de álcool nos jovens que está directamente relacionado com o défice de competências parentais e com a falta de alternativas adequadas a estes. O elevado número de sinalizações de crianças vítimas de negligência também está relacionado com o alcoolismo e o défice de competências parentais. No entanto, também para ele concorrem as situações de desemprego, de desespero pela falta de expectativas face à vida, por doença mental e também a falta de recursos financeiros das famílias.

O mesmo relatório estabelece como problemas prioritários:

 - falta de projectos de vida dos jovens;

 - abandono e absentismo escolar;

- abuso sexual de menores;

- falta de respostas sociais em matéria de infância/juventude;

- gravidez precoce indesejada – taxa de fecundidade na adolescência no Distrito de Beja 26,7 [Portugal de 16.2 (INE, 2008)].

A grande extensão do concelho aliada à distância a que se encontra dos hospitais de referência: Santiago a 60 km e Beja a 100km, sendo este último o hospital de apoio perinatal, torna esta distância/tempo de 1h30m, palco de muitas situações de partos acidentais na ambulância (em média 5 por ano).

O número elevado de utentes com paralisia cerebral, que se julgava ter forte correlação com o tipo de parto, tem vindo a diminuir (mesmo assim, 42 casos, segundo os Censos 2001, nº mais elevado do litoral alentejano) pelo esforço conjunto e pela capacidade de interrelação que se estabeleceu entre o hospital e o centro de saúde, com a elaboração de protocolos específicos para esta problemática.

É de salientar que este concelho possui também um estabelecimento prisional feminino, que mantém com o Centro de Saúde protocolos na área da vigilância e promoção da saúde da mulher/criança.

 POPULAÇÃO RESIDENTE

POPULAÇÃO INSCRITA NO CENTRO DE SAÚDE

                                                                     Fonte: SINUS, Fevereiro 2010